domingo, 4 de novembro de 2012

Viagem interna: Um passo à Liberdade

Li e ouvi falar muito bem de uma exposição que está sendo realizada no Itaú Cultural: Lygia Clark: Uma retrospectiva.

Trata-se de uma artista que iniciou seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, e no decorrer de sua carreira desenvolveu um novo paradigma artístico no qual seu objeto de trabalho "não estava mais fora do corpo, mas era o próprio corpo".

Em 1968, Lygia Clark apresentou sua obra "A Casa é o Corpo" em um local onde convidou os visitantes a interagirem com esta, estimulando a sensação de penetração, ovulação, germinação e expulsão do ser vivo

Lygia Clark: A Casa e o Corpo (1968)

Esta experiência de "germinação" e "nascimento" provocaria sensações e experiências subjetivas e corporais, levando o indivíduo ao contato profundo consigo mesmo.

Em construção de uma arte que se completaria com o corpo do outro, Lygia Clark utilizava objetos sensoriais e relacionais para promover a interação "arte-corpo". Desta forma, sua arte foi caracterizada como uma manifestação artística transcendental, pois é essa a vivência que proporcionava às pessoas.

Para a artista, "a arte precisava estar a serviço da libertação do ser humano". E foi por isso que evolucionou de forma criativa a arte, construindo obras que  estimulassem o "acesso direto com o nosso interior (Self) desenvolvendo um estado de auto-conhecimento revelador e, por isso, libertador". 

Uma das obras de Lygia Clark exposta no Itaú Cultural de São Paulo


Achei bem interessante a proposta desta artista, que através da  interação e sensação (resultante desta experiência) promove uma experiência corporal única e bem dito por ela, uma abertura e contato com o Self que nos possibilita a revelação de uma parte de nós. O encontro com mais uma peça preciosa de nós mesmos que pode e faz diferença no nosso modo de ser e perceber a vida.

Descrevo abaixo, um trecho do site da Lygia Clark sobre a figura desta artista na atualidade:

"... O mundo virtual, sem limites, vai tomando o lugar do mundo físico em nossas vidas. Trabalhamos, convivemos e nos divertimos por meio de telas, interfaces que nos dizem o que fazer e nos guiam aonde queremos chegar. Perturbados com a velocidade deste novo mundo, compartilhamos nossas loucuras por meio de redes e mídias sociais, buscamos forças na força invisível do divino e acordamos todo dia em dívida com a informação que prolifera sem parar.

A forças invisíveis do mundo online podem nos trazer grande liberdade (virtual), mas podem também nos oprimir. Vivemos com medo de inimigos igualmente invisíveis: vírus (de computador ou não), bactérias, assaltantes, terroristas. Vivemos trancados em locais seguros, mantendo contato com todo o planeta por janelas eletrônicas.

Oprimidos, com medo e confusos, sentimos necessidade de nos expressar: berramos gritos de guerra em torcidas, nos exibimos em webcams, falamos de nós mesmos por horas em chats e transformamos o corpo em outdoor de nossas opiniões.

Sutilmente loucos, procuramos alívio instantâneo em bebidas, abusamos de drogas, lícitas ou não, e dançamos frenéticos ao ritmo de tambores. Chegamos a pintar a face (manifestações de rua, estádios esportivos, carnaval). Enfim, tentamos simular a vida dos ancestrais que viveram num mundo mais simples, fácil de entender, bastava alimentar e proteger a tribo. Ou seja, o primitivo, hoje, nos dá alívio.

Lygia acreditava que a arte precisava estar a serviço da libertação do ser humano que hoje existe em células, comunidades e perfis online".



Convido a todos para passarem por esta experiência e se sentirem à vontade, compartilhem a vivência que tiveram neste encontro consigo mesmo!


Onde
Itaú Cultural (São Paulo/SP)
Avenida Paulista, 149 - Próximo à estação Brigadeiro do metrô

Exposição: Lygia Clark: uma retrospectiva
Quando: De 01 de setembro a 11 de novembro
Terça a sexta: 09hs às 20hs
Sábado, domingo e feriado: 11hs às 20hs

Lygia Clark (1920-1988)
Foi uma das fundadoras do Grupo Frente, marco histórico do movimento construtivo no Brasil. Depois, abandonando rótulos e escolas, passou a denominar-se "não artista", radicalizando conceitos. Com o desenvolvimento de experiências sensoriais, ela estendeu os limites de compreensão da obra de arte, agregando-lhe contornos terapêuticos.

domingo, 14 de outubro de 2012

Viagem interna: Um caminho árduo


Se pegarmos um livro de auto-ajuda, se lermos algo sobre o auto-conhecimento, inevitavelmente nos depararemos com dizeres sobre a importância de nos aprofundarmos em nosso Eu Interior.

De fato, é ali que está a sabedoria e há muitos caminhos que nos levam para esta "viagem interna". Mas preciso dizer que, seja qual for o caminho que escolhermos, a trajetória não será fácil. 

Morro da Baleia (Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros - GO)
Local estimado pelos espiritualistas que realizam em seu topo vigílias, celebrações e meditações.


É muito fácil escrever aqui, "Ei, dê mais ouvido aos seus sofrimentos!", "Preste atenção nas suas dores", "Ouça seu coração!", quando o que mais queremos é nos distanciar daquilo que nos faz mal.

É muito mais fácil dizer a respeito do sofrimento do outro, do que do nosso próprio sofrimento.

E isso é comum. 
Faz parte da nossa defesa psíquica. 

Enquanto podemos, "expulsamos" para fora tudo aquilo que nos faz mal e o que não queremos aceitar. Projetamos no outro e no mundo externo tudo aquilo que de ruim é. O outro que é egoísta, o fulano que é um chato, o mundo é cruel e olha o que vida faz comigo!

Sim, o mundo pode ser cruel, a vida pode ser injusta e as pessoas podem ser chatas. Mas temos que aprender a lidar com as adversidades da vida a ponto destas não prejudicarem o nosso desenvolvimento e fluidez.

Como? 
Reconhecendo em si mesmo o egoísta, o chato, o cruel e o injusto (além de outras figuras atuantes em nossa personalidade). Se estas figuras te incomodam a ponto de te prejudicarem em algum aspecto da vida, chegou o momento de desmascará-las. 

Como dizia Nietzsche, nós somos constituídos de inúmeros personagens:

"Porque eu sou, originária e fundamentalmente, força que puxa, que atrai, que levanta, que eleva: um gula, um corretor e educador, que não foi em vão que disse a si própria, outrora: Mostra quem és!" 

É fácil? Não.
Precisa ser agora? Não.
Posso adiar? Pode.
E se eu não quiser mais? Faça como quiser. O tempo e o momento oportuno chegarão.

Este sofrimento psíquico pode até passar, mas em algum momento da sua Vida, ele poderá retornar e com mais força. E quanto mais é ignorado, mais potente ficará podendo levar à somatização ou ao desencadeamento de doenças de diversos tipos. 

Do ponto de vista da Psicossomática, a doença tem o papel de nos alertar sobre como estamos encarando a Vida. É através dela que muitos "pacientes" (sim, os adoecidos passam a ocupar um papel de paciente, de resignação perante a vida) passam a refletir sobre o sentido da e sobre sua Vida.

O importante é que em algum momento, seja hoje, amanhã ou depois de alguns anos, nós possamos ter a força e a coragem de nos enfrentar. 

Caminho de Santiago de Compostela (Espanha)
Caminho percorrido por peregrinos ou por aqueles com intenções espirituais ou pessoais.

É um caminho árduo.
Porém, a conquista de cada passo caminhado é simplesmente indescritível. É uma satisfação intensa, um novo amor brotado. 

É algo que deve ser vivenciado. 
Segundo a introdução do livro "Tao Te King - O Livro do Sentido e da Vida" de Lao Tsé:

 "a palavra falada ou escrita, por si só, não basta para transmitir a vivência espiritual".


Só quem vive sente. 

Posso dizer isto, porque tenho passado por experiências como esta.  
Apesar de alguns anos em processo psicoterapêutico, posso dizer que somente nos últimos anos tenho realmente entrado neste processo. 

Como diz um provérbio zen: 

"Não se pode pisar o Caminho, antes de se tornar o próprio Caminho"

Não podemos querer chegar em algum lugar, sem saber como e onde chegar.
Não podemos nos tornar alguém, sem saber realmente quem somos.
O caminho é a Alma. 
Busque e torna-se sua própria Alma.

Estas colocações parecem óbvias, mas nem sempre são vistas como tais. 
Muitas pessoas deixam de "enxergar" a obviedade da vida para seguirem cegamente as verdades impostas pela sociedade.

E você?
Faz parte desta estatística ou já está em busca de suas pedras preciosas  rumo ao  processo de construção do seu mosaico?

Cristais de quartzo naturais de Chapada dos Veadeiros/GO

domingo, 7 de outubro de 2012

Mouseen


Muitas pessoas têm me perguntado o que é "mouseen" e o por que da palavra.
Mouseen é uma palavra alemã e significa mosaico.


Mosaico By Emma Biggs


Segundo wikipédia, o mosaico é uma técnica artística milenar que resulta da junção de pequenas peças de pedra ou de outros materiais (plástico, areia, papel, conchas, etc) formando determinada figura (mosaico). O objetivo desta arte é justamente preencher espaços e planos com variáveis materiais para formar figuras artísticas e decorativas.

Acredito que podemos associar a nossa constituição psíquica ao mosaico.
Assim como o mosaico, somos constituídos de pequenas "peças" (e estamos em processo de construir outras mais) que no decorrer da Vida vão se encaixando uma a outra. Com a integração destas peças, pode-se "preencher as lacunas" geradas pelo sofrimento físico e psíquico, bem como integrar nosso ser prol ao alcance da totalidade, da individuação.

Entende-se por "totalidade" a consciência de nossas instâncias psíquicas como os complexos, arquétipos, sombra, persona, descritas por Carl Gustav Jung. 

Segundo ele, quando conseguimos identificar estas instâncias psíquicas atuando em nós mesmos, conseguimos integrá-las em nosso ser nos aproximando à individuação.

A individuação é um processo de ampliação da consciência, na qual o indivíduo se liberta da alienação promovida pelo ambiente em que vive e se conecta cada vez mais com a sua verdade interior e essência, denominada Self (conteúdo inconsciente) para buscar o equilíbrio emocional.

Porém, o processo de individuação sofre múltiplas influências seja do ambiente, das relações intra e inter pessoais, do universo, entre outras forças externas que podem dificultar a sua realização, gerando sofrimento e doença psíquica. Esta é a forma como o Self se "rebela" para promover a auto-realização.

Por isso, é tão importante oferecermos um olhar e escuta à dor e ao sofrimento.

Por isso, é tão importante identificarmos as peças que compõe o nosso ser e nos aventurarmos na busca das nossas peças ao longo de nossa existência.

As peças, os cacos, as partes ou seja lá como quiser denominar, estão em cada experiência vivida, em cada parte que nos toca à espera de serem reconhecidos e integrados.

É este o desafio que proponho neste blog, a vivência da aventura em sua viagem interna.

Qual será a forma do seu mosaico pessoal?